sexta-feira, 18 de julho de 2008

Introdução a CME

Todos os artigos médico-hospitalares, não descartáveis, requerem um processamento adequado para que possam ser utilizados pelos clientes sem que esses sofram riscos de contaminação. Para tal, desenvolve-se uma série de atividades nas quais estes materiais são processados, tornando-os, de acordo com a criticidade, adequados para uso em seres humanos. (Graziano, 2003)
Por definição, Central de Materiais e Esterilização (CME), é um conjunto de sub-setores inter-relacionados que são responsáveis pela limpeza, desinfecção, preparo, esterilização, armazenamento seguro e distribuição de artigos médico-hospitalares (silva, 1997). A descrição da RDC nº 50 de 21 de fevereiro de 2002, apresenta-a como sendo: “(...) unidade destinada à recepção, expurgo, limpeza, descontaminação, preparo, esterilização, guarda e distribuição dos materiais utilizados nas diversas unidades de um estabelecimento de saúde. Pode se localizar dentro ou fora da edificação usuária dos materiais” (Brasil (a), 2002). A RDC n. 307, por sua vez, a define como sendo uma unidade de apoio técnico responsável pelo fornecimento de artigos médio-hospitalares devidamente processados, resultando em condições adequadas para atendimento a indivíduos enfermos ou sadios (Brasil (b), 2002).
Nos últimos tempos, apesar de ser considerada como um serviço de apoio, a CME vem desempenhando um papel crucial no que diz respeito ao controle de infecção hospitalar (Lacerda, 2003).
Em um breve histórico, consideram-se as ações praticadas por Florence Nightingale onde esta se preocupava e orientava sua equipe aos cuidados com os materiais, relacionando-os com a técnica asséptica. Antes disso, no século IV a.C. Aristóteles já alertava Alexandre o Grande a ferver a água, mesmo a matéria viva ainda sendo considerada por geração espontânea (Pelczar, 1994). No início do século XIX as primeiras cirurgias, extremamente rudimentares, são realizadas e os principais problemas dos cirurgiões resumiam-se em três grandes limitações: falta de recursos para controle da dor, da hemorragia e das infecções (Thorwald, 1976). O surgimento dos conhecimentos na área da microbiologia, por cientistas como Pasteur e Robert Koch, ainda no século XIX, relaciona a prevenção do desenvolvimento de bactérias patogênicas em procedimentos cirúrgicos com a desinfecção de instrumentais utilizados nestes e a lavagem das mãos dos cirurgiões (Tripple, 2005).
A origem das Centrais de Material e Esterilização está diretamente relacionada à evolução da medicina, principalmente da cirurgia. Por isso, quando em 1842 Long e posteriormente, em 1846 Morton, introduzem a anestesia, conseqüentemente os procedimentos cirúrgicos eletivos surgem e se fortalecem estimulando maior refinamento na técnica cirúrgica bem como em seus instrumentos, fazendo-se então necessária à implementação de um ambiente específico para o tratamento destes materiais e de pessoas para tal (Jouclas, 1987). Baseado nestes conceitos, as normas, rotinas e procedimentos foram se desenvolvendo e se tornaram um complexo de atividades que no atualmente são conhecidas como CME.

CARACTERÍSTICAS ARQUITETÔNICAS E ORGANIZAÇÃO DA CME
Um dos pontos fundamentais quanto a Central de Materiais e Esterilização está relacionado à sua localização na organização de saúde, em virtude de ter que ser de fácil acesso aos considerados setores consumidores: centro cirúrgico, centro obstétrico, unidade de terapia intensiva, pronto socorro, unidades de internação, dentre outros. Ao mesmo tempo, o contato com as unidades fornecedoras, tais como: almoxarifado e lavanderia, também deve ser observado. (Moura, 1996)
Esta unidade deve favorecer, de uma forma funcional, o fluxo unidirecional dos artigos a serem processados, de forma a estabelecer um padrão de segurança e qualidade aos processos realizados, conforme se descreve abaixo.
Fonte: SOBECC, 2005
Dentre as atribuições desta, o processamento adequado dos artigos é o foco central da assistência prestada. Para tal, se distinguem áreas específicas à execução de cada tipo de tarefa, as quais, de acordo com Possari (2005) e Brasil (2002), serão descritas sucintamente a seguir.
· Área de recepção e expurgo: Destina-se a recepção, descontaminação, lavagem e separação de artigos. Considerada insalubre pela grande concentração de materiais com presença de matéria orgânica como sangue e secreções. De acordo com a RDC 50/2002, deve conter: 0,08m² por leito, sendo no mínimo 8,0m².
· Recepção de roupas limpas: destinada à recepção de roupas vindas da lavanderia. Deve possuir 4,0m².
· Preparo: Área destinada a inspeção, seleção, empacotamento e identificação dos artigos médico-odonto-hospitalares. Deve possuir 0,12 m² por leito, no mínimo 12,0m².
· Esterilização: Área destinada e com espaço físico suficiente para as instalações dos equipamentos considerados como esterilizadores, ou seja responsáveis pelos processos de esterilização, respeitando uma distância de 0,60m entre os equipamentos.
· Área de armazenamento e distribuição de materiais: Área onde estão centralizados e acondicionados todos os artigos processados da instituição, e desta deverão ser distribuídos para as unidades consumidoras de forma segura e consciente. Deve possuir 0,2 m² por leto, com no mínimo 10,0m². Nesta, o controle deve ser rigoroso, pois o prazo de validade bem como as condições climáticas do ambiente da sala devem ser monitorados para fins de segurança ao cliente onde este artigo será utilizado.
Esta unidade deverá ser supervisionada e coordenada por um profissional enfermeiro e este deverá contar com técnicos e auxiliares de enfermagem aos quais caberão o desenvolvimento das tarefas técnicas inerentes ao setor, todos embasados nos artigos da Lei n.º 7498, de 25 de junho de 1986. (Brasil (c), 1986)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 2616, Diário Oficial da União, Brasília, 12 de maio de 1998.
2. Graziano, KU. Processo de limpeza, desinfecção e esterilização de artigos odonto-médico-hospitalares e cuidados com o ambiente de centro cirúrgico. In: Lacerda, RA (coord) Controle de infecção em centro cirúrgico: fatos, mitos e controvérsias. São Paulo: Atheneu Editora, 2003. p. 163-95.
3. Silva, MDA; Rodrigues, AL; Cerasetti, IUR. Enfermagem na unidade de centro cirúrgico. 2 ed. Revisada e ampliada. São Paulo: EPU, 1997.
4. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC nº. 50 de 21 de fevereiro de 2002. Brasília, 2002.
5. Lacerda, R.; Egry, E.Y. As infecções hospitalares e sua relação com o desenvolvimento da assistência hospitalar: reflexões para análise de sua práticas atuais de controle. Rev. Latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 5, n. 4, p. 13-23, outubro de 1997.
6. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC n. º 307, de 14 de novembro de 2002. Brasília, 2002.
7. Controle de Infecção em centro cirúrgico: fatos, mitos e controvérsias. Lacerda, R.A. (coordenação) São Paulo: Atheneu Editora, 2003.
8. Pelczar, JA. Brief history of sterilization. In: Asepsis – the infection prevention forum. Fourth quarter, v.16, n.4, 1994.
9. Thorwald, J. O século dos cirurgiões: conforme documentos de meu avô, o cirurgião HE Hartmann. São Paulo, 1976.
10. Tripple, AFV et al. O trabalhador sem formação em enfermagem atuando em centro de material e esterilização: desafio para o enfermeiro. Rev. Esc. Enfermagem da USP, Ribeirão Preto, 2005; 39(2):173-80.
11. Jouclas, VMG. A análise da função do circulante de sala de operações de acordo com a metodologia sistêmica de organização de recursos humanos. [tese] São Paulo: Escola de Enfermagem da USP, 1987.
12. Moura, LMPA. Gerenciamento de central de material e esterilização para enfermeiros. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 1996.
13. Moura, LMPA. Enfermagem em centro cirúrgico e recuperação pós-anestésica. 4 ed. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 1999.
14. Possari, J.F. Central de material e esterilização: planejamento e gestão. 2ed. Editora Iatria. São Paulo: 2005.
15. Brasil. Ministério da Saúde. Lei n. 7498 de 25 de junho de 1986. Brasília, DF, 1986.